anacronismo hoje é domingo e vê como os domingos são dias viciosos. Consumo as memórias que tenho tuas, como uma tua viúva autista. Não falo a ninguém, não estou para ninguém. Revejo uma e outra vez as pistas que me deixaste ao desaparecer, procuro-me em ti e não encontro, mas não acredito, tenho a certeza que me mentes. Ignoro os factos mas quem me pode julgar, se é tão doce estar contigo esta noite, e amanhã já será de dia.
a viagem uma vez na estrada já não se volta atrás, e em cada quilómetro se pressente a chegada, a cada quilómetro se atropela o caminho. Não sobra nada do que ficou para trás. A questão das escolhas tão mal resolvida em mim: decido que ainda posso fingir-me inocente quando sei que a inocência já a perdi, num quilómetro antigo da auto-estrada do sul.
a origem chegámos de carro e chegámos de noite. Vínhamos bêbados de antecipação. Viveria para sempre nesse eterno antes. Mas os factos consumam-se ainda antes de serem factos. E os corpos consomem-se antes de estarem juntos.
o terraço as estrelas de Setembro e um calor molhado que só existe a profundidades mediterrânicas. Não sei se dancei mas a verdade é que dancei. As testemunhas dessa noite bem podem dizer que a sonhei. Que sonhei uma noite em todos os detalhes da nossa traição. Sonhei-a com banda sonora, e sonhei o que não disseste.
o fim falas-me de escolhas mas não entendes que não te escolhi. Que não houve um ponto no tempo onde te pudesse ter dito que não. Foste sempre inevitável.
2 comments:
Escreves mesmo bem, pá! :)
Beijos!
Sara,
Este teu texto e o do encanto do torpe são de longe os melhores textos que alguma vez li num blog pessoal. Seria tão bom continuares a escrever e a partilhares o que escreves.
Um beijinho grande,
Claudia W
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